domingo, 3 de outubro de 2010

Escort XR3: relembrando os anos 80

Ford Escort XR3: igual a esse modelo da foto, pintado de amarelo claro, é que a juventude dos anos 80 sonhava desfilar pelas ruas

O slogan que dá título à matéria já diz tudo. Em 1987 o comercial veiculado na televisão mostrava o carro em um cenário high tech, evidenciando a mudança. Em outro filme, exaltava seu desempenho, para salvar uma mocinha em perigo que estava sendo levada por ninjas em um balão. Em um período com poucas novidades, importações fechadas e muita criatividade por conta dos fabricantes de foras-de-série, o esportivo da Ford causou impacto logo de cara. Nesse mercado limitado aos nacionais, a chegada de um modelo recém-lançado na Europa provocou frisson na mídia e no público.

Mais do que um Escort, esse era o XR3. A sigla tem um significado, no mínimo, interessante: Experimental Research 3. A versão foi lançada na Europa em 1980 e também surpreendeu. Logo ganhou o título de hot hatch, devido ao seu comportamento arisco e respostas rápidas.
Mas veja bem. Estou falando da versão européia, que não chegou a ser vendida por aqui. O carrinho, no bom sentido da palavra, era equipado por um motor CVH, com carburadores Weber e nada menos do que 96 cavalos brutos. Juntando isso e o baixo peso, fica claro porque ele tem sido cultuado no velho continente nos últimos anos.

Na traseira, o defletor de ar de borracha e os frisos na cor da carroceria estão entre os detalhes mais característicos dessa versão esportiva

A versão esportiva desembarcou no Brasil em 1984. O estilo era diferente de tudo que havia sido visto nos últimos anos. Rodas exclusivas, spoilers, aerofólio, as – belas – saias laterais e os faróis auxiliares davam um visual único ao carro. Isso sem falar no teto solar, item que, aliás, parece ter sido descoberto e – felizmente – está sendo utilizado em larga escala no mercado nacional.

Rodas de aro 14 com desenho que lembra o de uma turbina

Se o estilo sugeria fortes emoções ao volante, a publicidade seguiu pelo mesmo caminho. Ayrton Senna, na época em franca ascensão, nomeava as qualidades e emprestou seu carisma ao modelo nos comerciais exibidos na TV. O preço altíssimo na época fez com que muita gente apenas sonhasse através do showroom da concessionária. Vale lembrar que longos financiamentos simplesmente não existiam.

O belíssimo exemplar 1988 na cor amarelo-citrino é um representante da geração chamada de MKIV. No ano anterior o modelo havia passado por uma remodelação, ficando com um estilo mais leve, para-choques envolventes e mantendo o espírito esportivo que o consagrou. Isso tudo foi mostrado nos comerciais citados no primeiro parágrafo.

Teto-solar era feito pela fabricante alemã Karmann-Ghia

O advogado Gianfranco Cinelli é o terceiro dono e, acreditem, comprou o carro totalmente original, com apenas 21 mil quilômetros. “Os pneus são Firestone F-660 da época e o estepe nunca foi no chão”, diz. “O carro sempre foi do Estado de São Paulo. Além disso, tem o som original Ford/Philco, antena elétrica funcionando e conta com ar-condicionado, vidros e travas elétricas”, ressalta.

Para muitos essa é a última geração do “autêntico” XR3, equipada com motor CHT, já que a versão passou a utilizar o motor AP após a criação da Autolatina. “A sigla vem de Compound High Turbulence e a versão Formula tinha 86 cv, contra 74 cv do CHT convencional. Essa diferença se justificava pelas melhorias feitas pela marca no sistema de alimentação, novo comando de válvulas com maior abertura, coletor de escapamento dimensionado, distribuidor com nova curva de avanço e carburador recalibrado”, conta.

Por dentro, o XR3 tinha instrumentação com check-control, botões giratórios do tipo satélite e volante com 36 centímetros de raio

Nesse caso também fui convidado a dar uma volta. Posso garantir que a experiência foi bastante proveitosa. Não pelo fato mecânico em si, mas sim pela oportunidade de dirigir o carro que foi o sonho de consumo de quase toda a molecada da década de 80. É um símbolo eterno de juventude, de certo modo.

Escort tem agilidade, uma ótima posição de dirigir e conforto de sobra nos bancos. A ergonomia é outro fator de destaque, sendo possível acionar as setas de direção sem tirar as mãos do pequeno volante. Mesmo não tendo o comportamento do primo europeu, o desempenho é satisfatório.

É bom ver que os esportivos da década de 80 vêm ganhando o reconhecimento pela sua importância histórica nos últimos anos. E para completar a nostalgia, basta escolher uma trilha e colocar no toca-fitas Philco. Realmente voltar no tempo por alguns minutos faz um bem danado para saúde.


Relógio digital no teto também fazia parte do charme do XR3

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