Com alta dos preços do etanol, motoristas adotam prática que pode danificar motor
É bem provável que nada tenha valorizado tanto nos últimos meses quanto o litro do etanol. Tido até pouco tempo como o grande herói entre os combustíveis oferecidos no mercado, o mais novo vilão dos postos brasileiros não chega, é claro, a ser um problema para quem tem um veículo flex, ou mesmo movido somente a gasolina.
Mas se tornou uma pesada dor de cabeça para quem ainda possui modelos movidos apenas pelo álcool, parte ainda considerável da frota nacional. Para tentar compensar o prejuízo com o uso do etanol tão caro, muitos deles, segundo alguns frentistas consultados, estão fazendo uso de um novo recurso, o “rabo de galo” às avessas!
Muitos abastecem o tanque colocando partes iguais de gasolina e álcool, enquanto outros pedem proporções maiores de gasolina, ou, apenas o combustível mineral com a falsa impressão de que ganharão em autonomia – compensando, assim, o investimento um pouco maior.
“Na prática não é isso que acontece. Quem faz isso está, na verdade, causando uma série de danos ao motor”, explica Marcus Vinícius Aguiar, diretor técnico da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).
E não são poucos os problemas que aparecem. Além de contaminar o óleo lubrificante, a gasolina pode causar estrago nas válvulas, na sede das válvulas, velas de ignição, junta de cabeçote e várias outras peças do motor que entram em contato com o combustível. “O etanol possui um poder antidetonante muito maior que o da gasolina, por isso que a taxa de compressão de um motor movido exclusivamente a álcool é bem mais alta. Por causa disso, o combustível mineral explode antes do momento ideal na câmara de combustão, e é justamente isso que pode causar tanto estrago”, explica o diretor, que lembra ainda que a temperatura do propulsor chega a ficar mais elevada com essa nova receita de “rabo de galo”.
Os resultados mais drásticos ocorrem quando se usa apenas gasolina, ou proporções muito maiores desse combustível na mistura com o álcool. Mesmo quem opta pela proporção em partes iguais coloca o motor em risco – os danos podem até ser menores, segundo Aguiar, mas ainda assim não é recomendável optar pela mistura.
“Usar o combustível mineral não melhora a autonomia do veículo, nesse caso. Como não explode no momento correto, a gasolina acaba proporcionando gasto maior e rendimento menor. É um desperdício.”
De acordo com outro frentista consultado, um dos clientes do posto onde trabalha tem abastecido seu carro a álcool com diesel – algo muito difícil de acreditar. Verdade ou não, perguntamos ao diretor da AEA o que poderia ocorrer nesse caso. “Para usar diesel o motor precisa ter uma taxa de compressão ainda mais elevada que a necessária para o uso de etanol. Nesse caso, certamente o combustível mineral nem deve ser queimado, é até difícil dizer exatamente o que pode acontecer. A única coisa óbvia é que, em algum momento, o dono do carro terá um grande prejuízo com essa prática.”