domingo, 29 de agosto de 2010

Celta X Clio X Palio X Gol X Mille X Ka

NUNCA FOI TÃO FÁCIL COMPRAR UM CARRO NOVO. MAIS DIFÍCIL É ESCOLHER O MELHOr

 PARA O SEU BOLSO
No supermercado, você escolhe uma marca de arroz ou sabonete se ela estiver 30 centavos mais barata que a concorrência? Então esta matéria é para você. Escolher o carro contando centavos pode render a economia de dezenas de reais ao mês, mais que o rendimento da poupança. Você sabe quanto custa cada popular, na hora e depois da compra? Para responder, reunimos os carros que estão custando, na loja, menos de 25 000 reais: Fiat Mille Economy, Renault Clio Campus, Chevrolet Celta Life, VW Gol G4, Fiat Palio Fire Economy e Ford Ka. Pesquisamos preço real, depreciação na revenda, valor de seguro, além de gasto com revisões, combustível e peças extras, ao longo de três anos e 30 000 km. E, além do custo, você conhece os benefícios de cada um? Como carro não é sabonete, que dá para comprar de outra marca na semana seguinte, é bom saber.

Começo pelo Mille. Ele venceu o comparativo de julho passado, mas o texto indicava que a vitória dependia da cotação do dia: “Nenhum carro é bom ou ruim antes de você saber o preço”. O Mille precisa custar muito menos para compensar a sensação de ser um estranho no meio do trânsito, de conviver com um padrão único de acabamento. Ao baixar a alavanca de freio, não tem jeito, você espreme os dedos no console. Só não machuca porque esse console afunda, é parte do carpete prémoldado. Em julho, o carro da Fiat era 4 000 reais mais barato que a concorrência – um desconto de 25%, tanto dinheiro que dava para comprar arcondicionado. Agora a diferença caiu à metade. Dá para investir no kit Top 1, com rodas de liga leve, vidros elétricos, rádio, ar quente, desembaçador e apoios de cabeça traseiros. Poderia comprar direção hidráulica, mas o Mille não precisa. Ela sempre foi leve. Agora, infelizmente, ficou leve demais.

Uma das iniciativas da Fiat para reduzir consumo, no Mille Economy, foi deixar as rodas dianteiras em posição neutra – antes eram levemente divergentes (cada uma puxando o carro para seu lado) e com cambagem negativa (inclinadas para fora). A direção ficou boba, como se houvesse dois sacos de cimento no porta-malas. Traz leveza no primeiro quarto de volta, ficando insegura já a partir de 60 km/h. Aliviado por fora e em suas peças internas, o motor Fire conseguiu ótimo rendimento. Mille e Palio saem de quebra-molas e valetas melhor que muito carro 1.6.


O Palio nasceu para matar o Mille, em 1996, mas a briga de irmãos acabou virando amizade, com compartilhamento de peças que favoreceu aos dois. Mille e Palio têm o mesmo plano de revisões tabeladas: 549 reais. O Palio está 1 900 reais mais caro que o Mille, e você não encontrará justificativa para isso na lista de equipamentos. Os dois são bastante simples – o único luxo é o econômetro, que ajuda a poupar combustível. A vantagem do Palio está no projeto mais moderno, com avanços em segurança ativa (caso da suspensão, de comportamento mais previsível) e passiva (como o estepe no porta-malas, bem mais seguro em colisões que no cofre do motor). Mas o Mille custa menos na compra, gasta menos no posto e anda mais rápido.

Encomendamos à corretora Nova Feabri cotações de seguro com perfis de motorista de “alto risco” (solteiro, estudante, até 25 anos) e “baixo risco” (casado, 40 anos), em sete capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Campo Grande. A íntegra dos levantamentos está em nosso site. Os valores seguem um padrão: o Celta é sempre mais barato. Logo acima vêm Ka (segundo melhor em São Paulo) e Clio (segundo melhor nas outras cidades). Palio e Mille formam um terceiro bloco e, de longe,


O Gol é o mais caro. O G4 ganhou um sistema mais sofisticado de chave codificada em 2008, mas isso não foi suficiente para baratear sua apólice. O Gol justifica a fama de ter seguro caro e não justifica, não no Geração 4, a fama de dar prazer ao dirigir. É o único com ajuste de altura no banco, mas isso apenas atenua o problema do volante desalinhado, herança do modelo de 1980. Na saída do sinal de trânsito a frente abana, como se os amortecedores estivessem vencidos. Quem diria, hoje o Palio é mais bem acertado de suspensão e freios que o Gol G4.

Mês que vem chega o Gol G4 EcoMotion, com mudanças para baixar consumo. A inovação é bemvinda, afinal o Gol empata com o Ka como o mais bebedor. Celta, Palio e Clio ficam num pelotão intermediário, e o Mille se destaca à frente. Tomara que a Volks vá além de afinar o motor. Hoje esse Gol é pouco prazeroso, pouco equipado e caro de manter.



Clio e Ka são carros que você não encontra na locadora (embora o Mille também tenha sumido do cardápio de empresas como Localiza, Hertz e Avis), têm menos pragmatismo e mais imagem. O Ka foi lançado há dois anos, mas, nesse mercado árido, ainda é o modelo com mais cheiro de novidade. Seu desenvolvimento recente leva em conta preocupações atuais, como manutenção e valor de seguro. O modelo da Ford é o único equipado com alarme e trava elétrica com controle remoto no chaveiro, e ainda traz conta-giros e aviso eletrônico de revisão. Isso atenua o problema de ser o modelo mais caro da turma.

O Ka é a escolha de quem busca prazer ao dirigir. Com direção rápida, suspensão firme, não surpreende que seja comprado por gente rica como carro de track day. Também não surpreende que essa gente prepare o carro antes de estrear na pista... O motor Ford é o menos eficiente do comparativo, fica em último em desempenho e consumo. Na retomada de 60 a 100 km/h, foi 5 segundos mais lento que o Celta. Na estrada, você precisaria de 100 metros a mais para fazer a mesma ultrapassagem. As qualidades do Ka são mais evidentes que as do Palio, mas os defeitos também. Qual é o mais vantajoso?

Os custos do Ka dependem bastante da quilometragem (porque seu consumo é maior) e os do Palio dependem muito do perfil do motorista (porque seu seguro é mais caro). No nosso uso cálculo, os custos empataram. Se você roda muito, vá de Palio. Se você tem perfil de seguro de maior risco, vá de Ka.



O Clio é o menos vendido, mas o único capaz de pegar emprestado aquele slogan do Polo: “O mundo inteiro dirige o mesmo carro”. Os europeus também compram. Ele nasceu como carro superior e foi perdendo equipamentos, mas não perdeu todos. Ar quente e desembaçador, só ele tem de série. Enquanto a luz interna do Mille não acende ao abrirmos a porta do carona, a Renault oferece acendimento gradual, como numa sala de cinema. Temos aviso de farol aceso, cintos traseiros retráteis, bancos aconchegantes e o painel de duas cores. O Clio não se destaca em pontos importantes para um público de dinheiro contado – tem mecânica mais sofisticada e menor liquidez na revenda. Mas é mais carro.



O vencedor é o Celta. É um carro gostoso de dirigir. Não é tão na mão quanto o Ka, mas fica perto – e anda muito mais rápido. Com câmbio curtíssimo e o motor VHCE, ele deixa o modelo da Ford 5 segundos para trás, na retomada de 60 a 100 km/h. O Celta anda rápido e bebe pouco, como o Mille, mas tem projeto mais moderno e visual atraente. A diferença de preço não está tão grande e tende a diminuir com o tempo, porque seu seguro é o menor.

Não é uma vitória que surge à primeira vista. Peças onde você põe a mão, como maçanetas de porta e botões de ventilação, parecem pequenas e frágeis. Isso é a parte ruim. Mas, ao cortar custos em todos os detalhes, o Celta não corta demais em detalhe algum. Não há partes de lataria nem parafusos expostos dentro da cabine. Os cintos de segurança dianteiros têm ajuste de altura e os laterais traseiros enrolam sozinhos. Temos luxos como contagiros e alarme de faróis esquecidos acesos. Faltam desembaçador, ar quente e para-choque pintado, mas não é caro providenciar.

Isso é tudo? Não. Fique de olho no preço do serviço. Nossa experiência em testes de Longa Duração mostra que a rede Chevrolet dá trabalho – é preciso pesquisar serviço em diferentes lojas, porque os orçamentos variam, e dispensar serviços inúteis que eles incluem na lista. Contar centavos, enfim. Aquilo que você já conhece bem.



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