É algo muito corriqueiro em nossa rotina de motorista brasileiro: você está dirigindo em uma rua ou estrada, quando sente uma pancada seca em uma das rodas (às vezes, até nas duas ao mesmo tempo). Pronto: você adicionou mais um buraco para sua coleção de tantos outros já “atropelados”. Após xingar até a quarta geração de quem deveria zelar pelo bom estado das vias, resta rezar para que rodas, pneus, sistema de suspensão ou até mesmo o sistema de freios não tenham sofrido danos.
Apesar de estarmos acostumados com ruas e estradas que lembram campos de batalha – bem diferentes do que existe nos países mais desenvolvidos –, só nos resta, pobres contribuintes, tentar se precaver. “Se você visualizar o buraco, e o impacto for inevitável, o melhor a se fazer nesta hora é pisar no freio para reduzir bem a velocidade, soltando o pedal pouco antes de atingir da batida”, explica Carlos Henrique Ferreira, consultor técnico da Fiat.
Segundo o engenheiro, a força do impacto é amplificada em muitas vezes quando as rodas estão travadas, e a distribuição do peso do veículo muda completamente. Ele cita um exemplo: um carro cujo eixo dianteiro carrega 650 kg passa a receber a força de 900 kg nas frenagens mais fortes. Diante disso, pneus, rodas e suspensão estarão mais suscetíveis a danos. Edson Marubayashi, gerente de desenvolvimento da Pirelli, completa o raciocínio. “Nesta hora, molas e amortecedores estarão quase no fim de seu curso, e não distribuirão a força do impacto como deveriam.”
De acordo com Marubayashi, os primeiros componentes a sofrer são sempre os pneus e as rodas. Os buracos “mordem” mais as laterais dos pneus, e podem levar ao rompimento da manta interna de aço, que fica na banda de rodagem. “Um fio quebrado que seja, já é o suficiente para criar bolha no pneu”, explica o gerente. Pivôs, bandeja, coxins, juntas homocinéticas, direção e até os freios são os próximos na fila de riscos.
A saída, segundo os dois especialistas, é transpor os buracos com as rodas destravadas. “É o mais indicado, pois o motorista consegue diminuir o impacto, fazendo com a suspensão, que não estará tão contraída, volte a fazer seu trabalho de forma mais adequada”, afirma o engenheiro da Fiat, Carlos Ferreira. “Quanto mais rápido o carro estiver, maior será o impacto absorvido pelo pneu”, adiciona Edson Marubayashi, da Pirelli. A suspensão traseira tende a se prejudicar menos.
Independentemente de qual for o tamanho do buraco “atropelado”, é bom fazer uma inspeção visual dos pneus e rodas imediatamente após os impactos mais fortes. Depois, se for possível, deve-se levar o veículo ao mecânico de confiança para uma avaliação de eventuais danos a componentes internos. Barulhos na suspensão e direção puxando indicam que o buraco danificou alguma peça.
Justiça pode ajudar a reaver dinheiro do conserto do veículo avariado por um buraco
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Se o seu carro ficou danificado ao passar por um buraco, não se acanhe: é seu direito recorrer à Justiça para cobrar o prejuízo. Renato Mehana Khamis, advogado especializado em direito público, afirma que o cidadão pode, sim, processar o responsável pela via. “Seja governo municipal, estadual ou federal. Eles têm obrigação de manter as vias bem conservadas”, diz.
Porém, antes de correr para o escritório de advogado mais próximo, saiba que é preciso se cercar com o máximo de provas: “Fotografe o local, como ficou o seu carro, peça recibo do guincho e arrole testemunhas. Quanto mais provas, melhor”, diz Khamis. No entanto, esteja ciente de que estes processos podem demorar anos para se resolver. “Às vezes cinco ou mais.”
Caso o buraco tenha sido aberto por uma empreiteira contratada por uma prefeitura, por exemplo, o caminho pode ser abreviado, de acordo com o especialista: “Empresas privadas tentam resolver mais rápido. Comprovando a responsabilidade, há maior possibilidade de se fazer acordo. Já quando é algum governo, o pagamento é feito por precatórios. Aí, demora mesmo, já que apenas os alimentícios têm prioridade”, afirma o advogado. Então, se o buraco estiver em uma estrada privatizada, acione a empresa concessionária primeiro.
O valor da ação determinará qual o caminho. Para prejuízos inferiores a 40 salários mínimos (R$ 20.400), os Juizados Especiais Cíveis (JEC) são os mais indicados. Ali, causas de até 20 salários (R$ 10.200) dispensam advogados. Acima deste patamar, somente na Justiça comum.
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